As vezes sinto que tenho uma guerra na mente
Vamos tentar isso aqui mais uma vez. Tentei escrever direto num caderninho, tipo um diário mesmo, mas acho que sou acostumado demais com o teclado, a tela, os bits. Amo o papel, mas tem algo em escrever muito que me cansa muito mais do que por um computador. Fora que escrever aqui tem um sentido nostálgico, de retorno aos anos 2000 e minha adolescência surfando pela web. É, os anos 2000 já são velhos o suficiente pra sentir nostalgia e romantizar o saco que era ficar conectando internet discada.
Mas enfim, sobre o assunto principal… hoje não foi um dia legal. Por nada especificamente, mas simplismente pelo fato de que a vida adulta escolhe alguns dias aleatóriamente na semana para jogar todo o peso do mundo sobre a gente. Começa com uma reunião chatissima num projeto complicado que faz zero sentido (afinal quem fica rico com isso né?), e implanta ali um aborrecimento que vai acumulando, crescendo como uma bola de neve e destruindo qualquer interação social no caminho até atingir seu ápice e se tornar uma crise existencial contra o capitalismo e como o ocidente está em colpaso justamente na minha vez de viver
Intenso né? Mas juro que isso não é todo dia. Como eu disse, a vida escolhe um dia, geralmente depois de vários dias ótimos que te deram fé na humanidade, e decide te f*der. E não tem jeito, é lidar com isso.
Fui correr pra tentar apaziguar a mente e realmente, quem diria, exercicios tem mesmo um efeito positivo no humor. Hoje no caso nem foi correr, foi uma caminhada bem tranquila ao som de umas músicas assim meio sofridas - eu gosto de me entregar ao momento. No meio dessas músicas tinha Get Free da musa Lana del Rey (a quem eu tive o prazer de encostar na mão dela no festival Planeta Terra em 2012, bom dizer), e c@ralho que letra poderosa. Me fez voltar um pouco a crise existencial do capitalismo, pensando em qual momento da vida eu tive que, como na música, decidir jogar o jogo de alguém ou viver a minha própria vida. Deve ter sido por volta de 2009 quando eu tive de começar a trabalhar para pagar a faculdade, e trabalhei de office boy. Lembro de uma humilhação que passei de um ricaço, bem estilo Marco Aurélio de Vale Tudo, porque atrasei 5 minutos com um documento importante pra uma reunião dele. Ele falou que aquela reunião valia mais dinheiro do que eu ganharia em 50 anos.
Pesou o clima, desculpa. Mas a ideia é mostrar que nessa rotina, nessas agressões que a gente vai tolerando porque tem conta pra pagar, que a gente nem se dá conta e mistura o que é nossa vida e o que é trabalho, o que são objetivos nossos e o que são metas de uma corporação. E sei lá, eu já ando cansado disso faz muitos anos e não consigo sair do loop. Todos os planos que consigo traçar para sair de um trabalho corporativo e retomar o controle da minha força de trabalho parecem que vão demorar anos, e ainda sim vão depender que eu continue engolindo sapos - menos do que antes, felizmente, e ganhando mais - justamente desse sistema que não vai facilitar nem um pouco pra que eu saia dele.
Mas bem, agora quase no fim do dia, estou mais em paz. Não por saber o que fazer ou por ter algum plano mirabolante pra ganhar dinheiro fácil, mas só comemorando mesmo que o expediente acabou, é verão e vou acender um cigarro na varanda depois de postar isso aqui. É minha pequena libertação do sistema por hoje… out of the black, into the blue